Saturday, February 27, 2010

Dá-me uma mão.

Cacida de la mano imposible
Yo no quiero más que una mano,
una mano herida, si es posible.
yo no quiero más que una mano,
aunque pase mil noches sin lecho.

Sería un pálido lirio de cal,
sería una paloma amarrada a mi corazón,
sería el guardián que en la noche de mi tránsito
prohibiera en absoluto la entrada a la luna.

yo no quiero mas que esa mano
para los diarios aceites y la sábana blanca de mi agonia.
yo no quiero mas que esa mano
para tener un ala di mi muerte.

lo demás todo pasa.
rubor sin nombre ya, astro perpetuo.
lo demás es lo otro; viento triste,
mientras las hojas huyen en bandadas.
Cacida da Mão Impossível
Não quero mais que uma mão,
mão ferida, se possível.
Não quero mais que uma mão,
inda que passe noites mil sem cama.

Seria um lírio pálido de cal,
uma pomba atada ao meu coração,
o guarda que na noite do meu trânsito
de todo vetaria o acesso à lua.

Não quero mais que essa mão
para os diários óleos e a mortalha de minha agonia.
Não quero mais que essa mão
para de minha morte ter uma asa.

Tudo mais passa.
Rubor sem nome mais, astro perpétuo.
O demais é o outro; vento triste
enquanto as folhas fogem debandadas.

Federico García Lorca
Ceder ao vento.

Sunday, February 21, 2010



A neve

"A neve pôs uma toalha calada sobre tudo.
Não se sente senão o que se passa dentro de casa.
Embrulho-me num cobertor e não penso sequer em pensar.
Sinto um gozo de animal e vagamente penso,
E adormeço sem menos utilidade que todas as ações do mundo."

Alberto Caeiro
"O assobio do melro"

"Se o homem investisse no assobio tudo aquilo que normalmente confia à palavra e se o melro modulasse no seu assobio todo o não dito da sua condição de ser natural, estaria dado o primeiro passo para preencher a distância entre… entre o quê e o quê? Natureza e cultura? Silêncio e palavra? O senhor Palomar espera sempre que o silêncio contenha alguma coisa mais do que aquilo que a linguagem pode dizer. Mas se a linguagem fosse realmente o ponto de chegada para que tende tudo aquilo que existe? Ou se tudo aquilo que existe fosse linguagem, logo desde o início dos tempos? (...) Continuam a assobiar e a interrogar-se perplexos, ele e os melros."

Italo Calvino, Palomar
"Como aprender a estar morto"

"Em primeiro lugar, não se deve confundir o estar morto com o não estar, condição que ocupa também a interminável extensão de tempo que antecede o nascimento, aparentemente simétrica da outra, igualmente ilimitada, que se segue à morte. De facto, antes de nascer fazemos parte das infinitas possibilidades às quais acontecerá, ou não acontecerá, realizarem-se, ao passo que, uma vez mortos, não podemos realizar-nos, nem no passado (ao qual pertencemos agora inteiramente mas sobre o qual já não podemos influir) nem no futuro que, apesar de influenciado por nós, nos permanece vedado."

Italo Calvino, Palomar