Sunday, December 6, 2009

A Joana, a Janela e os Pés-de-Fora.

Reparei que já ando por aqui há algum tempo e ainda não me apresentei... Portanto aqui vai:
Sou a Joana, às vezes apetece-me ter 7 anos e nasci na terra mais pequenina do mundo e mais bonita (pelo menos do meu mundo). Da minha janela, em vez de ver prédios grandes a tapar o azul do céu, pessoas apressadas, estradas e carros amontoados, vejo o verde das florestas, dos campos e todos os dias há um pôr-do-sol diferente e colorido. De noite não se vêem as luzes de janelas pequeninas amontoadas nos prédios, dos carros e dos candeeiros, vêem-se sim todas as estrelas e galáxias do universo e a lua enorme e brilhante num céu infinito pintado quase só para mim. Não se ouvem "Pipiiis" nem "Pópóoos", ouve-se o vento que passa nos ramos das árvores, o chilrear dos passarinhos e o assobio do pastor a comandar o rebanho. Não há hiper/super/mini-mercados, há hortas com legumes sempre fresquinhos todo o ano, árvores carregadas de frutos maduros e pão saído do forno a esfumegar. Posso correr ou rebolar pela erva, trepar às árvores, saltar nas poças de água e sentir-me real/completamente livre e liberta do outro mundo cheio de complicómetros inventado por nós humanos. Sabe bem sentar-me à janela, respirar fundo uma lufada de ar fresco e sentir toda a paz e calma do mundo a fluir-me nas veias. Gosto e admiro as coisas simples e pequeninas à minha volta e à volta de meus dias, que muita gente não consegue ver (por terem as janelas da alma fechadas), o que as torna ainda mais bonitas e únicas.
Para além disso, gosto muito de todas as formas de arte, de ciência, de aprender sempre mais sobre todo o tipo de coisas e de chocolates. Na maioria do tempo sou Astronauta de pés assentes (às vezes) na Terra e nas horas vagas sou Extraterrestre de cabeça na Lua. [Noutras horas perdidas entre esse tempo sou estudante de Bioquímica.]
Faz
agora um ano que alguém me ofereceu a minha primeira máquina fotográfica. Não pretendo ser uma grande fotografa, aliás não pretendo ser coisa grande nenhuma. Mas gosto muito de poder guardar dentro de uma fotografia todas as coisas simples que fazem os meus olhos brilhar e, de quando em vez, partilhá-las com quem estiver disposto a limpar o pó dos olhos, a abrir as janelas da alma e a desligar o complicómetro. Obrigada P., por me teres dado o bombom mais doce que já recebi. E obrigada também a quem por aqui passa.
Joana, Dez2009.

Tuesday, December 1, 2009

Presépio.
Poema de Natal

"Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente."

Vinicius de Moraes




Outono
"Somos como árvores
só quando o desejo é morto.
Só então nos lembramos
que dezembro traz em si a primavera.
Só então, belos e despidos,
ficamos longamente à sua espera."

Eugénio de Andrade

"(...) Um livro de poesias
é o outono morto:
os versos são as folhas
negras em terras brancas,

e a voz que os lê
é o sopro do vento
que lhes incute nos peitos
— entranháveis distâncias. (...)"

Federico García Lorca

Tuesday, October 20, 2009


Piratear os Anjos.
Para P.
O meu amor é um anjo
Que tem as asas nas mãos.
O meu anjo não voa, é um marinheiro
Que navega num céu feito mar,
A bordo de uma estrela feita barco.

Mora numa nuvem feita ilha
Tecida com as gotas do vermelho
Que o horizonte bebe a cada fim de tarde.
E, quando a noite veste o horizonte,
Desfaz a sua nuvem sobre o meu leito
E molha meu corpo com o seu vermelho,
Feito fogo do mais puro desejo.

O meu marinheiro é a chama de um farol,
Que incendeia o meu peito
Quando a seu lado me deito.
(E faz de mim o seu anjo)
Joana09

Monday, October 19, 2009

10 minutos antes do sol nascer...

...(quando a lua ainda é senhora do céu e dos sonhos)

Sunday, October 18, 2009

(Des)Contar os anos.

"Quando eu nasci,
ficou tudo como estava,
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe..."

José Régio


Wednesday, October 7, 2009

Borboleta

"Se eu largar
Eu sinto a sua falta
Se eu agarro ela perde a côr
Ela não é dos meus dedos
É dos meus medos
E faço-me passar por uma flor

Tento imaginar o que ela diz
À espera de aprender
..."
Borboleta, Manel Cruz (Foge foge bandido)

Sunday, August 16, 2009

Da Luz da minha manhã.
Para P.
É nos carris da manhã,
Que desço meus olhos ao rio
E faço dele meu leito.

Bebo o brilho de teus olhos,
Navegando na manhã de outro rio
E abraço o lençol de luz,
Que vais tecendo docemente,
No suave ondular de meu corpo.

Um outro rio,
Uma outra ponte,
Mas a mesma Luz
E o mesmo Abraço.
Joana09.

Saturday, June 20, 2009

Wednesday, June 17, 2009

...Lovely Rose...
"Go, lovely rose!
Tell her that wastes her time and me
That now she knows,
When I resemble her to thee,
How sweet and fair she seems to be.

Tell her that's young,
And shuns to have her graces spied,
That hadst thou sprung
In deserts, where no men abide,
Thou must have uncommended died.

Small is the worth
Of beauty from the light retired;
Bid her come forth,
Suffer herself to be desired,
And not blush so to be admired.

Then die! that she
The common fate of all things rare
May read in thee;
How small a part of time they share
That are so wondrous sweet and fair!"

Robert Herrick

Tuesday, June 16, 2009


Secar ao tempo.

Mesmo depois de ficar secas, as rosas continuam bonitas e conservam o seu perfume, por isso muitas vezes as guardamos nos nossos cantinhos e sorrimos quando as voltamos a olhar.

(Eu tenho um botãozinho de rosa que mora numa rua chamada caixinha de chocolates, onde as casas são envelopes coloridos e os seus habitantes poesia.)

"Todas as prendas que me deste, um dia,
Guardei-as, meu encanto, quase a medo,
E quando a noite espreita o pôr-do-sol,
Eu vou falar com elas em segredo …

E falo-lhes d’amores e de ilusões,
Choro e rio com elas, mansamente…
Pouco a pouco o perfume do outrora
Flutua em volta delas, docemente …"

Florbela Espanca

Monday, June 15, 2009

Abrir as rosas depois do orvalho.

"Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.

Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.

Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,

Se cada ano com a primavera
As folhas aparecem
E com o outono cessam?

E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?

Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva."

Ricardo Reis

Com este calor todo, hoje soube-me mesmo bem umas gotinhas de chuva na face (e o cheiro a terra molhada).

Friday, June 12, 2009

...Só porque o Sol voltou...
Explosions in yellow.

Thursday, June 11, 2009

Beber a chuva.
"Embora lave o medo
que há do fim
a chuva apaga o fogo
que há em mim
Ouço a voz de quem
me quer tão bem
E fico a ver se a chuva
a ouvirá também..."
Chuva, Ornatos Violeta

Wednesday, June 10, 2009

Hoje é dia de chuva.

"A chuva chove mansamente... como um sono
Que tranquilize, pacifique, resserene...
A chuva chove mansamente... Que abandono! "
Cecília Meireles

Tuesday, June 9, 2009

Sunday, April 12, 2009

Monday, March 30, 2009

Wednesday, March 18, 2009

Luz.
"Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas do próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem

Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca"

Mário Cesariny

Wednesday, March 4, 2009

Crepúsculo...
...ou O Meu nome é vermelho.

Thursday, February 26, 2009


Janela.


Mar.

Gosto da espuma branca das ondas, quando se desfazem na palma de meus pés descalços.
E gosto quando o mar puxa de novo para si a água das ondas desfeitas e a areia foge debaixo de meus pés.

Wednesday, February 11, 2009

Tuesday, February 3, 2009

"Ancor che col partire, c'io mi senta morire,
Partir vorrei ognor, ogni momento.
Tant'è il piacer ch'io sento
Nella vita ch'acquisto nel ritorno.
E così mille, mille volte il giorno, mille, mille volte il giorno,
Partir da voi vorrei
Tanto son dolci i ritorni miei..."
"Ainda que ao partir eu me sinta morrer,
gostaria de partir a todas as horas, em todos os momentos.
Tanto é o prazer que eu sinto
na vida que adquiro ao regressar.
E assim, mil e mil vezes ao dia.
Partir de vós quereria
Tão doces são os meus regressos. "

Sunday, February 1, 2009


"What about China? Have you seen the Great Wall?
All walls are great, if the roof doesn't fall!
"

Björk, "I've seen it all"

"Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio."


Ricardo Reis

"Minha alma é como um pastor
...
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias,
Ou olhando para as minhas ideias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende."

Alberto Caeiro

Espelho II.

Pinheiro estendendo um braço ao azul.

Espelho.

Túnel.

Abraçar a neve.

Teia de ramos pintada a neve.