Sunday, April 18, 2010




"Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
(...)
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha."

Álvaro de Campos (Tabacaria)

1 comment:

JM said...

É a sina dos grandes e verdadeiros artistas... sentirem que falharam mesmo quando conseguiram chegar aonde ninguém mais alcançou. E nós, abutres, saboreamos levianamente a arte que brota das suas vidas sofridas... e eles, mesmo sabendo-nos indignos da sua arte, continuam a criá-la, pois não sabem viver sem ela.